Como estudar e aprender mais e melhor

Durante esses quase 10 anos em sala de aula, como docente, vejo que muitos alunos não conseguem alcançar bons resultados em avaliações, ainda que tenham, aparentemente, se dedicado. Então se houve um esforço, por que os resultados não aparecem? Já fui também aluno um dia e sei que, muitas vezes, falhamos na forma que conduzimos os nossos estudos e nossa vida acadêmica, de uma maneira geral. Deste modo, gostaria de levantar algumas questões que podem ser aplicadas a qualquer pessoa que deseja aprender e estudar de maneira mais eficiente.

A forma com que você estuda e encara essa atividade poderá conduzi-lo a um estudo muito mais eficiente, ajudando a alcançar melhores resultados. Antecipadamente posso adiantar que, não é nenhuma fórmula mágica; tudo tem a ver com o modo mais inteligente que conduzimos essa atividade e com dedicação.

Como se diz: “Para a se alcançar a excelência, não existem atalhos”.

O primeiro mito que devemos derrubar é o de que os bons alunos alcançam bons resultados apenas porque são talentosos e têm um dom especial para os estudos. Isso não é verdade! Qualquer um pode estar entre os melhores. Tudo é uma questão de técnicas, estratégias e dedicação. Já vi diversos casos de pessoas que não se destacavam inicialmente e que, depois, figuraram entre os melhores. Do mesmo modo, o caminho inverso também pode acontecer.

Ainda que muitas vezes nos dediquemos e os resultados não venham, continue dando o máximo de si, pois é assim que crescemos. Todo esforço, ainda que aparentemente sem resultados, deve ser encarado como uma experiência e não como um ponto final.

Vejo como o primeiro passo deste processo o elemento motivacional.

Você dificilmente vai alcançar bons resultados em qualquer atividade, sobretudo no estudo, se não se sente motivado. Uma das maneiras de se motivar é pensar o quanto esta dedicação de hoje poderá contribuir para o seu futuro. Às vezes é necessário nos dedicarmos a coisas que não gostamos em prol de um resultado futuro. É o que sempre digo para meus alunos: não vamos gostar de todas as disciplinas e conteúdos vistos na sala de aula, entretanto, todos eles são importantes para sua formação.

Pense em algum profissional de sucesso na sua área de atuação, tenha certeza que ele também passou por dificuldades e precisou manter a motivação para ser um grande profissional. Inspire-se nestas pessoas e veja as dificuldades do caminho como pedras que tornam a caminhada mais difícil, entretanto, não são capazes de impedir a chegada até o ponto final (objetivo).

Estudar exige energia, mente aberta, curiosidade e vontade de experimentar novidades, sempre procurando formas de superar a si mesmo. Aprender para ser bom profissionalmente pode muitas vezes ser desconfortável e exigir uma luta diária, mas sem esforço não há resultados.

Imite as boas estratégias de estudo de seus colegas que têm melhores desempenhos.

Observe de perto o que eles costumam fazer. Eles anotam em cadernos? Fazem desenhos? Prestam atenção? Fazem perguntas ao professor? Sentam nas primeiras fileiras da sala? Não interessam quais sejam elas, as boas práticas devem ser imitadas e adaptadas de modo a melhorar os seus resultados no que se refere à assimilação de conteúdos. O que ele faz que você também poderia fazer? Eu, por exemplo, costumava fazer esquemas (tipo mapas mentais) resumindo os conceitos e as relações entre eles (aprendi isso observando os resumos que os professores costumavam fazer em aulas de revisão). E isso me ajudava muito a fixar o conteúdo, bem como, a relembrá-lo em momentos futuros.

Hoje temos vários recursos tecnológicos que facilitam guardar as informações (tirando uma foto da lousa, por exemplo). Entretanto, não há nada melhor para seu cérebro do que você mesmo reproduzir suas próprias anotações. Eu sou uma pessoa da área de tecnologia, mas não dispenso as anotações manuais em cadernos e/ou bloquinhos de papel. Procure associar conceitos mais complexos às coisas mais simples que você consiga melhor compreender e lembrar. Claro que todo arsenal tecnológico que está à disposição deve ser usado e é nosso aliado, entretanto, jamais dispense a simplicidade de um caderno, ele pode ser muito eficiente no desenvolvimento de nossas habilidades. Fazer resumos, imediatamente, daquilo que você acabou de estudar ajuda e muito no aprendizado. Não deixe para depois aproveite que as informações estão “fresquinhas” na sua cabeça.

Lembre-se: mais importante do que o registro desta informação num dispositivo eletrônico é a sua fixação no seu cérebro. Aproveite para exercitar também a sua capacidade de abstração. Abstrair significa eliminar os detalhes, mantendo a essência. Assim é o estudo: não precisamos decorar as coisas e sim aprendê-las, mantendo a essência daquilo que é importante para nosso aprendizado.

Outra coisa que é importante é estar disposto detectar os seus “maiores e menores” erros.

Por mais que achemos um conteúdo fácil, jamais deixe de estuda-lo e praticá-lo com constância. Além de ajudar a manter o hábito do estudo (diário ou semanal) isto ajuda a revelar os pequenos erros que poderiam passar despercebidos, tendo reflexos na qualidade final do seu estudo. Não tenha receio em cometer erros, pois eles são nossos melhores conselheiros. Ao errar pergunte-se: o que eu errei? Por que eu errei? Quais conceitos estão relacionados aos meus erros? Reconheça seus erros assim que cometê-los e procure saná-los imediatamente. Por mais que sejamos tentados, não ignore e nem passe por cima dos seus erros, pois eles são pontos de referência para o aperfeiçoamento (indicando o que podemos fazer para melhorar).

Inicialmente foque naqueles conceitos mais básicos deixando as coisas mais complexas para o final. Entenda uma coisa de cada vez e, aos poucos, vá fazendo as devidas conexões entre os conteúdos. Só siga adiante depois que dominar cada coisa e para reforçar esse domínio faça as repetições (recapitulando o que foi aprendido anteriormente). O nosso cérebro aprende assim: um pouco de cada vez. Ninguém vai se transformar e dominar tudo de um dia para o outro, vamos melhorando aos poucos, repetição por repetição.

Apesar de dar aulas de algumas disciplinas há alguns anos repasso, no dia da aula, todo o conteúdo, por mais que eu já o domine. Relembro os conceitos básicos, refaço os exercícios, me preparo como se fosse a primeira vez que estivesse estudando aquele conteúdo.

Não há nada melhor do que a prática. A prática é um elemento transformador se executada corretamente e intensivamente.

Mas isso requer esforço e dedicação para se permitir sair da zona de conforto. Eu costumo passar para meus alunos muitos exercícios referentes ao conteúdo para serem feitos fora do horário de aula, ainda que não irei cobrá-los. Para alcançarmos bons resultados nos estudos é necessário que tenhamos precisão e façamos repetição. As repetições determinam os resultados futuros. Não faça uma lista de exercícios porque se sente obrigado pelo professor, faça porque quer alcançar o seu objetivo profissional (voltamos mais uma vez na questão da motivação para os estudos).

A partir do momento que você pratica aquilo que acabou de estudar você se torna mais preciso e assimila de modo muito melhor, cometendo muito menos falhas. E outro ponto importante é que a prática não deve ser, necessariamente medida no tempo de relógio… Muito mais importante que o tempo é a qualidade da prática. Melhor fazer três coisas bem-feitas e bem assimiladas do que dez de um modo automático, sem feedbacks e sem um olhar crítico que possam te dar um retorno da qualidade do que acabou de praticar. Outra coisa importante quando nos referimos ao estudo e a capacidade de aprendizado: é melhor estudar 5 minutos todos os dias do que somente uma hora por semana, deste modo, a assimilação de conteúdos por nosso cérebro é bem mais efetiva. Por isso que um aluno que estuda um pouco todos os dias não precisa “se matar” para estudar tudo um dia antes da prova e acaba obtendo resultados bem melhores do que aqueles que só se esforçam um dia antes.

Outra vantagem da prática diária é que ela se torna um hábito e se você transforma seus estudos em um hábito os resultados certamente aparecerão, sobretudo, na sua futura vida profissional. Mas criar hábitos requer esforço e dedicação, alguns estudos indicam que precisamos de pelo menos 30 dias de repetições para que algo se torne, de fato, um hábito. Mas cabe destacar que criar um hábito não tem a ver com exaustão, você não precisa levar seu cérebro à fadiga para alcançar bons resultados. Esforço e dedicação são bem diferentes de exaustão.

Uma outra forma de manter a motivação nos estudos é transformá-lo num grande desafio, tipo um jogo.

A partir do momento que você passa a contabilizar algumas coisas consegue transformar isso num desafio. Observe em quanto tempo consegue responder determinado número de questões ou estudar certos conteúdos. Quando for estuda-los novamente procure contabilizar novamente o tempo gasto, e encare isso como um desafio. Quanto melhor for seu desempenho, isso significa que está “jogando” cada vez melhor. Semana a semana, dia após dia tente melhorar sua pontuação e observe que esta pontuação está diretamente ligada aos seus resultados futuros.

Estudar sozinho ou com alguém?

Essa é também outra questão que alguns alunos questionam. Estudar em grupos tem uma ótima vantagem que é questão da motivação. Quando temos alguém do nosso lado desistir é bem mais difícil. Entretanto, tenha momentos de estudos individuais, isso ajuda a perceber mais claramente suas limitações e erros, ajudando no processo de aprimoramento.

Quando estudante eu costumava ter um grupo de estudos fixo aos sábados, mas durante a semana, estudava sozinho em casa e aquilo que não conseguia superar sozinho buscava ajuda junto aos meus colegas. Ter a companhia de outras pessoas também ajuda, pois, uma das melhores maneiras de reforçar o que você aprendeu é ensinando aos outros. Quando ajudamos alguém a superar uma dificuldade, reforçamos a nossa própria capacidade de superação.

Outra dica que considero importante é ter uma atitude positiva diante do estudo.

Reconhecer os erros, como já foi dito, é importante. Mas não devemos ficar presos a eles e deixá-los servir como elemento de desmotivação. Não olhe como elemento de progresso a quantidade de erros que você cometeu, mas sim a quantidade de coisas que você sabe bem. Também se possível, termine seus estudos com aqueles conteúdos que você gosta mais, isso ajuda a manter essa atitude positiva diante desta atividade. Quando se sentir estagnado, mude suas estratégias de estudo. Mas jamais deixe de ser paciente e dedicado, pois esta estratégia não tem erro.

Sobre o autor:

Patrick Pedreira é Professor Mestre em Ciência da Computação, doutorando na USP, coordenador de cursos de graduação e, acima de tudo, um amante da tecnologia.

Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/como-estudar-e-aprender-mais-melhor-patrick-pedreira