Esta é a pior forma de pedir um aumento salarial

Pedir uma remuneração mais alta em tempos de desemprego galopante é uma tarefa para corajosos. Mas o sucesso de um pedido como esse, como ocorre com qualquer tipo de negociação, depende mais de planejamento do que de valentia.

Caio Arnaes, gerente da consultoria Robert Half, recomenda que a abordagem seja muito bem preparada.“O funcionário está com pouco poder de barganha neste momento, já que há muita gente disponível no mercado disposta a ganhar menos”, explica. Se você está insatisfeito com o que recebe, existem muitos candidatos que não estariam.

Nesse cenário, uma conversa que sempre foi difícil acaba se tornando perigosa. Isso porque pedir um salário mais alto pode ser facilmente mal interpretado pelo empregador e, em casos extremos, até gerar uma demissão — a não ser que você fundamente muito bem sua solicitação.

Segundo Arnaes, os aumentos costumam ser concedidos em duas situações. A primeira é como “reparação”: você já cumpre funções de um nível hierárquico superior ao seu há algum tempo, mas ainda está com o seu cargo antigo. Nesse caso, a promoção e o aumento vêm como forma de alinhar a sua remuneração à sua situação atual — nada mais justo.

Outra razão para o reajuste é o mérito. Você traz resultados acima da média? Fez alguma ação que gerou uma redução de custos ou um importante ganho para a empresa? Se sim, é natural pedir reconhecimento por isso, explica o gerente da Robert Half.

Tanto em um caso quanto em outro, é preciso trazer dados objetivos para sustentar o seu pedido e reforçar a sua intenção em continuar no emprego.

“É importante dizer que você gosta de trabalhar naquela empresa, que tem intenção de permanecer, e que busca uma valorização salarial por tais e tais motivos”, diz Ricardo Karpat, diretor da consultoria Gábor RH.

Qual é a pior abordagem possível?

Os especialistas ouvidos por EXAME.com são unânimes na avaliação de que a forma mais perigosa de solicitar um salário mais alto é atrelar a decisão da empresa à sua permanência no cargo. Algo na linha da frase: “Ou vocês me dão o aumento, ou me demito”.

O erro é mais comum do que parece, e suas consequências podem ainda piores do que você imagina. Segundo Karpat, é provável que empregador se sinta acuado e não ceda à pressão. E o pior: mesmo que ele conceda o aumento como solução temporária, caso a sua função seja imprescindível para a empresa, é possível que comece a procurar o quanto antes um substituto para você.

Afinal, a relação de confiança terá sido quebrada. “A mensagem que fica de um ultimato é que você só está interessado no emprego por causa do salário”, explica o diretor da Gábor RH.

Não que a remuneração não seja uma contrapartida legítima do seu trabalho — mas é esperado que ela não seja a única razão para ficar ou ir embora.

A longo prazo, e diante do mercado como um todo, o profissional ficará com a pecha de negociante, no pior sentido da palavra. Para Karpat, a consequência de se dar um “xeque-mate” no empregador é mostrar que você não está realmente interessado nos objetivos e valores de uma empresa em particular, e que prefere leiloar o próprio trabalho.

Disso também decorre, segundo Arnaes, o risco de aceitar uma contraproposta. Quando você só permanece no seu emprego atual só porque a sua empresa vai “cobrir” o salário do outro possível contratante, conclui-se que a remuneração é, para todos os efeitos, a bússola da sua carreira.

É uma reputação a ser evitada,  sobretudo porque as empresas não querem mais um funcionário movido exclusivamente a dinheiro. “Elas entendem que aquela pessoa vai abandonar o barco, num piscar de olhos, assim que aparecer uma oferta maior”, diz o gerente da Robert Half.

Fonte original: http://exame.abril.com.br/carreira/esta-e-a-pior-forma-de-pedir-um-aumento-salarial/