Movemos a economia ou a economia nos move?

Você já parou para pensar como a economia chegou a ocupar um papel tão crucial em nossa sociedade, globalmente falando, e ao mesmo tempo, temos enfrentado tantos desafios e desequilíbrios envolvendo o tema?

A complexidade do sistema financeiro se tornou algo assustador: mercados dos diversos países sofrem reviravoltas quando certas influências políticas ou calamidades naturais ocorrem, taxas de juros flutuam como embarcações à deriva em alto mar, a volatilidade do valor das ações exponencializa por simples boatos ou especulações, dessa forma as variações  nesse universo afetam a vida de bilhões de pessoas em todo o mundo.

Mas em sua origem, o conceito de economia é relativamente simples, principalmente se submetermos a palavra ao paredão da etimologia. Sua origem vem do elemento “eco” do grego “oikos” e significa “casa, lar, domicílio, meio ambiente”, mais “nomos” cujo significado é “lei, ordem”. Para unificar os termos vou citar a explicação do professor de língua portuguesa Sérgio Nogueira, mestre pela PUC-Rio: “Na sua origem, economia é a arte de bem administrar a casa. Hoje é a ciência que trata da produção, distribuição e consumo de bens. É a administração do sistema produtivo de um país ou região, ou seja, da ‘casa’ em que vivemos.”

Lembramos que a nossa economia atual tem um protagonista, o grande símbolo desse mecanismo: o dinheiro. Ele permeia todos os ambientes, praticamente tudo está sob sua égide, desde terra, água, minerais, vegetais, animais, produtos, serviços e em alguns casos, até pessoas! Dependendo se dispomos dele ou não o acesso a inúmeros lugares pode ser permitido ou impedido. Curioso pensar como não temos direito a um pedaço sequer de terra nesse planeta se não tivermos necessariamente dinheiro para comprá-la.

Nas cidades grandes é raro encontrar formas alternativas de viver sem ele. Somos dependentes desse mecanismo que criamos e as relações das pessoas com esse item, tão presente em nosso dia a dia, são as mais variadas e resultam em muitos casos em felicidade ou infelicidade.

Na busca de clareza para entender esses impactos, procurei criar algumas analogias que pudessem fazer sentido entre o sistema financeiro e os sistemas do corpo humano. A ideia é tentar entender um pouco melhor o papel que a economia ocupa em nossas vidas.

A primeira comparação que me veio à mente, foi a do sistema financeiro com o sistema respiratório. Afinal, não dizem que quem está sem dinheiro está “no sufoco”? Imaginar o mundo de um minuto para outro sem dinheiro seria um grande colapso, mas será que seria como ar que falta em nossos pulmões? Acredito que o ar é um elemento vital demais para ser comparado ao dinheiro. Podemos ter uma forte relação com ele, mas nossa sobrevivência não depende absolutamente dele. Já houve “vida antes do dinheiro” e felizmente existirá depois dele.

A segunda comparação que pensei foi do sistema financeiro com o sistema circulatório. O sangue “circula” em nossas veias e o dinheiro “circula” pela sociedade, certo? Mas ainda não era isso. Por alguns motivos não poderia ser. Um deles é que na sociedade, o dinheiro é acumulado por várias pessoas, enquanto o nosso corpo não é capaz de acumular sangue, e isso tampouco seria uma vantagem, muito pelo contrário.

Mas partindo do princípio de que dinheiro é uma forma de energia que nos permite realizar várias coisas, poderia ele ser então uma espécie de açúcar? As analogias aqui podem ser servir muito bem! Nosso corpo necessita de açúcar para nos movermos, o dinheiro nos permite pagar por um transporte. O açúcar nos dá energia para realizar inúmeras funções, o dinheiro também. O açúcar pode ser tão viciante quando o dinheiro para muitas pessoas. Agora, se ingerimos açúcar em excesso ele se acumula em nosso organismo em forma de gordura. Ao negociar determinado produto ou serviço muitos dizem “a negociação tem gordura”, ou seja, uma margem, um excedente. Se acumulamos dinheiro e não gastamos, também estamos estancando uma energia que precisa circular.

No fim das contas não sei se encontrei a analogia mais apropriada, talvez o dinheiro possa ser o ar de alguns, o sangue para outros, uma energia saudável ou o açúcar em excesso que se transforma em gordura, acredito que depende muito de como lidamos com ele. Mas qualquer analogia que façamos nos leva a uma próxima reflexão: mesmo que busquemos a saúde financeira e nosso “corpo” esteja saudável, o que faremos com um corpo saudável? A que propósito serviremos? O que dá sentido às nossas vidas?

Acredito que nossas dificuldades globais em relação à economia e ao dinheiro se devem ao fato de não lidarmos com esses conceitos da maneira mais apropriada e mais saudável. Talvez, se o dinheiro fosse visto mais como meio e menos como fim, teríamos relações mais saudáveis com ele e entre nós mesmos. O que seria bom se percebêssemos é que, em essência, dinheiro é apenas um sistema de confiança. Confiamos que ao apresentar um papel com um certo número escrito nele poderemos trocar por quase qualquer coisa em quase qualquer lugar – se tivermos a quantidade requerida.

Precisamos confiar mais uns nos outros e para isso precisamos adquirir valores eternos. Confiamos naqueles que tem valores como honestidade, justiça, ética, fraternidade, etc. Será que não são esses valores ainda mais importantes de se conquistar, como sociedade, do que os valores financeiros? Essas são, na minha opinião, as verdadeiras riquezas para as quais deveríamos olhar com vontade de conquistar. Isso com certeza nos faria mais humanos. Essa seria uma riqueza que valeria a pena, uma economia que faria sentido. Na minha visão, só quando entendermos que não somos movidos pela economia, mas que somos capazes de movê-la em uma nova direção, a elevando a um outro patamar, seremos capazes de equilibrar simultaneamente as instabilidades do sistema financeiro e de qualquer outro sistema.

É nessa nova forma de economia que acredito!

Por Danilo España

Luah Galvão e Danilo España são idealizadores do Walk and Talk.

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