Os desafios dos pais e mães na pandemia

Tenho certeza que, ao ler o título deste artigo, você imaginou que eu falaria sobre como a crise que virou o mundo de cabeça para baixo atingiu as carreiras profissionais. Mas hoje eu quero discutir as outras carreiras que foram ainda mais afetadas pela pandemia do que as profissionais.

Comecemos pela carreira de pai ou mãe. Muitos de vocês experimentaram, inicialmente, uma alegria de conviver mais de perto com os filhos: poder vê-los do deitar ao levantar, almoçar e jantar juntos, fazer tarefas domésticas juntos, assistir a filmes, escolhidos em geral por eles, com a inevitável pipoca feita no micro-ondas.

Porém, com o passar do tempo, os desafios da carreira de pai ou mãe apareceram com mais intensidade, principalmente no que se refere à educação formal. Antes terceirizada para a escola, essa tarefa ficou a cargo dos pais, que precisam acompanhar aulas online, disputar espaço pela casa e refrescar a memória para relembrar conteúdos que não estão mais no dia a dia — além de se encher de paciência para responder às mil perguntas que as crianças fazem em seu processo de aprendizagem e de leitura do mundo. Esses desafios pegaram pais e mães de surpresa e os deixaram, algumas vezes, desesperados.

Outra carreira importante hoje é a de filho ou filha. Sabemos que nossa população está envelhecendo e lá estão os pais na faixa dos 60 ou 70 anos: fortes e saudáveis, mas muitas vezes despreparados para essa prorrogação da vida, tanto em termos financeiros como na atenção para a própria saúde.

Por serem do grupo de risco, pais e mães estão exigindo cuidados e atenção especiais. A quarentena obrigou os filhos e filhas a se desdobrar para poder fazer o supermercado para seus progenitores, comprar a lista (cada vez maior) de remédios e se mostrar mais presentes. As conversas por telefone, WhatsApp ou Zoom mostram a necessidade de atenção diária — e não mais semanal ou quinzenal.

A minha pergunta é: se fizéssemos uma avaliação de desempenho dessas duas carreiras, você se sairia bem ou ainda teria muitos pontos a melhorar? Essa análise não é tão simples, pois difere da carreira profissional, na qual as regras são mais conhecidas e as relações não são tão cercadas de emoções e sentimentos.

O processo de desenvolvimento também é diferente para as “carreiras humanas”, como gosto de chamá-las. Não há curso organizado: o aprendizado é totalmente experimental.

Fato é que, com a pandemia e o trabalho em casa, as carreiras de pai ou mãe e de filho ou filha estão sendo testadas e exigindo das pessoas humildade para aprender, resiliência, paciência, capacidade de ouvir, vontade de ensinar e compartilhar e coragem para perdoar.A boa notícia é que, depois que tudo isso passar, você vai voltar para sua carreira profissional muito melhor, pois terá mais facilidade para enfrentar grandes desafios comportamentais e para agregar conhecimentos. Garanto que você também estará muito mais feliz consigo mesmo.

Fonte: Revista VOCE SA